O esporte na Antiguidade
Mesmo que o termo esporte fosse
desconhecido na Antiguidade, as atividades físicas praticadas nessa época são
semelhantes às manifestações que nós chamamos hoje de esportes. Essas
atividades estão presentes em vários períodos e regiões da Antiguidade.
Civilizações como o Egito e a China já conheciam alguns esportes, mas essas
atividades se propagaram em sua plenitude na Grécia Antiga.
A China talvez seja a
civilização possuidora da mais antiga história do esporte, com registros das
práticas do hipismo, da esgrima, da caça, das lutas, da natação e de uma
atividade no século III, que pode ter dado origem ao futebol de hoje, o
tsu-chu.
A obra intitulada Os exercícios físicos na
história e na arte, de
Jayr Jordão Ramos, publicada em 1982, relata várias passagens importantes do esporte na Antiguidade. Dentre elas, destacamos:
No Egito, a prática esportiva foi
bastante evidenciada. A luta livre, o boxe, o arco e
flecha, a esgrima, as corridas e os saltos, disputando primazia com a natação e
o remo, foram os esportes de maior aceitação.
Os povos mesopotâmicos, particularmente os
assírios e babilônios, pelas
suas condições de vida,
cheias de imprevistos e em busca constante de
novas aventuras,
cultivavam exageradamente a
força, a agilidade e a
resistência, entregando-se a
atividades utilitárias.
Os hititas, povos de origem incerta, destacaram-se em todos os exercícios
utilitários, sendo cavaleiros muito bons..
Os hindus
apresentavam em suas atividades físicas as características
médico-higiênicas, fisiológicas, morais, religiosas e guerreiras.
Os japoneses, cujas atividades
físicas estavam relacionadas ao mar, em
função das condições geográficas
da região, desenvolviam também as atividades praticadas pelos guerreiros
feudais, conhecidas como samurais.
De acordo com Oliveira (1983,
p. 19), na região situada entre os rios Tigre e Eufrates, estavam os sumérios,
os caldeus ou babilônios e os assírios, que cultuavam a força física e a
resistência física. Eles desenvolveram a formação guerreira a partir de um adestramento
no uso do arco e flecha, na prática da equitação, na luta etc.
Tubino (1992, p. 18) sustenta
que assírios, caldeus, hebreus, medas, persas, fenícios e hititas tinham
práticas físicas ou esportivas fundamentalmente utilitárias, sempre relacionadas
às guerras com as quais invariavelmente se envolviam.
O
esporte grego
Os gregos
reconheciam a prática da atividade física, evidenciando os jogos e os
enfrentamentos competitivos, como uma forma de preservar a saúde, um meio para
adquirir a beleza e a força física, um caminho para ser reconhecido e instituir
status
social.
Também era uma forma de treinamento para as guerras.
Os eventos que envolviam a atividade física na Grécia tinham uma finalidade educativa
e faziam parte das cerimônias religiosas da época. O principal objetivo
era reverenciar os deuses.
Os Jogos Gregos marcaram o
conceito inicial dos esportes. Nesse período, eram disputados os Jogos
Fúnebres, os Jogos Píticos, os Jogos Ístmicos, os Jogos Nemeus e os Jogos
Olímpicos.
Os Jogos Fúnebres eram realizados durante os funerais de personagens
notáveis. Algumas cidades, como Atenas, realizavam tais certames para honrar
seus guerreiros caídos em combate.
Os Jogos Píticos, segundo Tubino (1992, p.30), disputados em homenagem
a Apolo, foram criados em 528 a.C. Eram os mais antigos e compreendiam, além
das provas esportivas, as competições de poesia, canto e música. Esses jogos
eram celebrados em Delfos e o prêmio, que inicialmente era sob a forma de
recompensa em dinheiro, passou a ser um ramo de cedro. Mais tarde, foi
substituído por uma coroa de louros.
Os Jogos Ístmicos, relata Tubino (1992, p. 30), eram disputados em
Corinto. A cada dois anos, havia as mesmas provas que os Jogos Olímpicos, com
ligeiras adaptações. Nesses jogos, também existiam competições artísticas e
intervenções de poetas e historiadores. Os vencedores recebiam uma coroa de
aipo silvestre; tempos depois, essa premiação foi trocada por dinheiro.
Um
dos aspectos mais importantes desses jogos foi que, ao lado dos Jogos
Olímpicos, propiciaram tréguas nas guerras para o desenvolvimento das
competições. Esses jogos eram realizados em honra a Poseidon, deus do mar,
conhecido pelos romanos como Netuno.
Os Jogos Nemeus de acordo com Ramos (1982,
p.140), eram realizados em Philius, na Nemeia, de dois em dois anos, em honra
do Zeus de Kleonae. No início, tinham significação fúnebre, pois foram
instituídos em honra do filho de Licurgo, morto por uma serpente.
Os atletas competiam classificados pela idade, em
três categorias, nas corridas de estádio e hípica, na luta, no pugilato, no
pancrácio e no pentatlo. Os concursos artísticos completavam a programação. Os
vencedores recebiam uma coroa de mirto.
Os Jogos Olímpicos eram
desenvolvidos em Olímpia, na Elida, de quatro em quatro em anos, em homenagem a
Zeus (Júpiter), rei dos deuses. Foram disputados 293 vezes, durante 12 séculos,
entre 776 a.C. e 394 d.C. (para alguns autores 393 d.C.).
Os jogos eram anunciados por arautos (portadores da trégua), que
viajavam por toda a Grécia para anunciar “a trégua sagrada”,
que suspendia as guerras e divulgava o início da competição. Na organização
dos jogos, existia uma regulamentação precisa, dirigida pelos chamados
“helenoices”. Eram pessoas de grande respeito entre os gregos e que se encarregavam
de todos os aspectos organizacionais, até mesmo treinamento dos
indivíduos que participavam como
árbitros ou atletas.
Diem
(1966 apud RAMOS, 1982, p. 133) afirma que os bárbaros e os escravos podiam
assistir aos jogos, ao contrário das mulheres casadas. As infrações eram
castigadas com a morte, havendo exceção apenas para as sacerdotisas casadas.
Ramos (1982) comenta que, no começo, os atletas usavam apenas um pequeno
calção. A partir da XV Olimpíada (720 a.C.), passaram a competir inteiramente
nus. Após a vitória, o vencedor apresentava-se ao árbitro, que colocava em sua
cabeça um fio de lã púrpura e lhe entregava uma palma que significava a eterna
juventude.
O
vencedor, considerado como o preferido dos deuses, recebia solenemente como
prêmio uma coroa de ramo de oliveira silvestre.
Conforme
a época, algumas recompensas foram outorgadas, como estátua no Altis (bosque
sagrado), honras políticas, isenção de impostos, pensões vitalícias e dinheiro,
dentre outras.
Após
um período de profunda decadência, os Jogos Olímpicos foram abolidos em 394
d.C., pelo imperador romano Teodosio I, que se converteu ao cristianismo e
proibiu os cultos pagãos. Flavius Theodosius (347/395 d.C.), conhecido por
Teodósio I e chamado por alguns de “O grande”, foi o último imperador a
governar as porções oriental e ocidental do Império Romano. Tornou o
Cristianismo a religião oficial do Império e autorizou decretos banindo o paganismo dos territórios romanos. Por
causa dessas leis, muitas pessoas morreram violentamente, monumentos gregos
foram depredados e vários templos antigos e a biblioteca do Serapeum
de Alexandria foram destruídos (RAMOS, 1982).
O esporte romano
Para
um melhor entendimento do que ocorreu em Roma quanto à prática de atividades
físicas, Ramos e Marinho (1983 e 1980 apud TUBINO, 1992, p. 37) estabeleceram
três períodos distintos: o tempo de monarquia, o tempo dos cônsules e início
das grandes conquistas e o tempo do império.
Tempo
de monarquia: foi compreendido desde a
fundação da cidade, em 753 a.C., até 510 a.C.;
os exercícios físicos eram intencionalmente conduzidos
para a preparação militar, recebendo
muita influência dos etruscos.
Tempo
dos cônsules e início das grandes conquistas: período
em que foram incorporados ao
repertório de atividades físicas, de predominância guerreira, os exercícios físicos de
características higiênicas e esportivas. Foi o período de grandes conquistas, de 510 a.C.
ao ano de 30 a.C.
Tempo
do império: esse terceiro período, de 30 a.C. a 476 d.C.,
compreende a glória e a decadência do império romano; as atividades físicas já
desenvolvidas anteriormente permaneceram, até que foram aos poucos substituídas
pelos cruéis espetáculos circenses de gladiadores e naumáquias (simulações de
batalhas navais).
Durante
esses três períodos, escritores, escultores e arquitetos romanos deixaram um
enorme acervo cultural ligado aos registros das práticas físicas e esportivas.
O
autor afirma que os romanos caracterizam-se pelos locais especializados para
estas práticas, como as termas, o
circo, o anfiteatro e o estádio. Os romanos também são lembrados pelas festas
conhecidas como jogos circenses, que se constituíram em jogos públicos e foram
abolidos em 521 d.C. depois da invasão dos bárbaros. Esses jogos circenses eram
inúmeros: os decenales, os capitólios, os acciacos, os quinquenales, os
megalésios, os cesáreos, os florales, os campitalianos, os apolinários, os
romanos, dentre outros. No entanto, o império romano foi, pouco a pouco,
entrando em decadência e o movimento esportivo acompanhou esse caminho,
deturpando até mesmo o sentido do esporte, extraordinariamente cultivado pelos
gregos.
Segundo
Oliveira (1983, p. 30), a mais antiga instalação esportiva de Roma era o circo,
concebido para a realização das corridas de carro (a grande paixão dos
romanos), corridas a pé e lutas de gladiadores. O mais antigo desses circos foi
o Máximo, construído ainda no império monárquico (século IV a.C.)
O
Coliseu foi o mais famoso anfiteatro romano. Teve sua origem no fim do período
republicano (509/27 a.C.) e foi idealizado para abrigar festas religiosas e
populares.
Tinha
capacidade para acomodar 100 mil pessoas (OLIVEIRA,1983, p.30). Oliveira (1983)
afirma que tanto os circos como os anfiteatros representam a decadência da
civilização romana. No período imperial (a partir de 27 a.C.), transformaram-se
nos locais em que multidões entusiasmadas exultavam com as deprimentes
exibições dos gladiadores, lutando entre si ou com animais.
Esses
locais também foram palco dos degradantes espetáculos de sacrifícios humanos,
nos quais os primitivos cristãos eram devorados por feras. Todo esse contexto
fazia parte da política conhecido como “pão e circo”. Os imperadores ganhavam a
simpatia popular, distribuindo rações diárias de trigo e alienando a plebe com
esses artifícios “esportivos”, de inspiração ideológica.
Pesquisa realizada e adaptada por: Prof. Raul Vaz da Silva Neto – Educação
Física (2012). Curso Olimpíada e Cidadania - Fascículo 2