Tornou-se um fato comum: meninos de 10 ou 11 anos, com o apoio de seus responsáveis, assinando contrato com clubes de futebol. Outras modalidades ainda não aderiram a tamanho radicalismo, mas já procuram novos talentos que estão no início da adolescência. Essa situação significa que, desde cedo, a criança é vista como um futuro atleta (e é cobrado dela que seja um).
O renomado doutor João Batista Freire, autor do livro Pedagogia do Futebol, afirma que a inserção de crianças em categorias de faixa etária superior à sua não ocasiona maiores transtornos a elas. Entretanto, Freire se refere a casos em que as “escolinhas” têm um caráter meramente formativo, não visando ao alto rendimento. Assim, essa teoria não se aplica à inserção em categorias de base de equipes profissionais.
Os meninos e meninas que iniciam a carreira de atleta muito precocemente, de certa forma, não vão usufruir os vários benefícios inerentes ao jogo, como o caráter lúdico, a sociabilidade, a consciência corporal e o respeito às regras. Essas crianças vivem outro tipo de prática esportiva: aquela permeada por cobranças, rigor, seriedade, enfim, pela busca da vitória a qualquer custo. Ou seja, aquilo que deveria ser algo divertido, relacionado ao lazer, passa a exigir uma grande responsabilidade da criança, que, abruptamente, passa a ver essa atividade como trabalho.
Mesmo o ganho no desenvolvimento físico é bastante questionável. Atletas que iniciaram a carreira prematuramente — como o jogador Ronaldo, por exemplo — apresentam um alto índice de lesões, principalmente articulares e musculares, decorrente do excessivo esforço físico e do constante choque com outros atletas.
Hoje, há um consenso com relação ao fato de que, para ser um atleta de ponta, é necessário aprender a conviver com a dor. Independentemente da modalidade, são raros os casos em que o jogador chega à idade-ápice (entre 25 e 30 anos) sem ter tido pelo menos uma lesão grave. Em algumas situações, jovens atletas renomados e com um futuro promissor em sua modalidade são obrigados a encerrar a carreira em virtude de lesões crônicas — que, às vezes, chegam a ocasionar mutilações. E a principal causa dessas constantes e sérias lesões é o início precoce numa atividade física profissional.
Hoje, há um consenso com relação ao fato de que, para ser um atleta de ponta, é necessário aprender a conviver com a dor. Independentemente da modalidade, são raros os casos em que o jogador chega à idade-ápice (entre 25 e 30 anos) sem ter tido pelo menos uma lesão grave. Em algumas situações, jovens atletas renomados e com um futuro promissor em sua modalidade são obrigados a encerrar a carreira em virtude de lesões crônicas — que, às vezes, chegam a ocasionar mutilações. E a principal causa dessas constantes e sérias lesões é o início precoce numa atividade física profissional.
Outra questão problemática é a ética. Embora o caráter lúdico desperte na criança o gosto pelo esporte (podendo mais tarde se tornar um hábito que proporciona qualidade de vida e saúde), a prática precoce nas categorias de base dos clubes profissionais e até em algumas “escolinhas” estimula uma competitividade exacerbada. Burlar regras, usar as infrações como recurso do jogo, ingerir substâncias ilícitas para aumentar o rendimento e falsificar documentos alterando a idade são fatos comuns nesse tipo de prática esportiva que precede o profissionalismo, e as crianças acabam acostumando-se com esse tipo de atitude.
Outro caso que tem se acentuado nos últimos anos não diz respeito ao esporte em si, mas à procura pelas academias de ginástica. Se anteriormente a preocupação com a estética era típica da adolescência, hoje também desperta o interesse das crianças. E a atividade mais procurada é a musculação, pois proporciona ganhos de forma mais rápida. Entretanto, os equipamentos são construídos para indivíduos adultos, podendo causar danos posturais à criança. Além disso, o esforço repetitivo com grandes cargas pode ocasionar lesões crônicas; e o trabalho com peso, inibir o crescimento ósseo. Assim, é recomendado que a criança vivencie a prática da musculação apenas de forma lúdica, ou seja, como uma brincadeira, com cargas simbólicas (isto é, sem peso algum), visando, sobretudo, à ambientação.
Nesse sentido, cabe uma reflexão sobre a necessidade (ou não) da especialização precoce de crianças e adolescentes em se tratando de práticas físicas. A princípio, a recomendação geral é simples: moderação. Essa é a palavra-chave.
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